ALMA LUSITANA:
LIVROS QUE DÃO VOZ A MINORIAS

Fotografia da minha autoria



«pontes para outras viagens»


O termo minoria, na sua componente sociológica, refere-se a um grupo de pessoas que não só se encontra em desvantagem, como também se vê privado dos seus direitos mais básicos. Assim, perpetua-se uma linguagem discriminatória, ampliando as diferenças, a sua vulnerabilidade social e a segregação. Por esse motivo, é fundamental dar-lhes voz, para que se quebrem estereótipos e se construa uma sociedade justa e igualitária.

Quando nos concentramos neste conceito, é simples verificar que as minorias estão presentes em várias origens: étnicas, religiosas, de género, de sexualidade, financeiras, físicas, linguísticas e culturais. Portanto, abraçando um mundo consciente, cuja principal missão deveria ser a salvaguarda dos direitos humanos, nenhum cidadão merece sentir-se marginalizado por alguma delas. Deve, antes pelo contrário, ter total liberdade para usufruir dos princípios estabelecidos na Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1948.

Quis, deste modo, que o tema para o Porto, no Alma Lusitana, partisse deste mote, até porque acredito que a literatura é mais uma forma de escutarmos realidades distintas. E, sobretudo, é outro recurso para lutarmos por esta causa. Para auxiliar no processo de escolha, reuni 15 livros que considero adequados a este tópico.


LIVROS QUE DÃO VOZ A MINORIAS


 O QUE VOU LER 


«Em Fevereiro de 2006, os Bombeiros Sapadores do Porto resgataram do poço de um prédio abandonado um corpo com marcas de agressões e nu da cintura para baixo. A vítima, que estava doente e se refugiara naquela cave, fora espancada ao longo de vários dias por um grupo de adolescentes, alguns dos quais tinham apenas doze anos [...] Romance vertiginoso sobre um caso verídico que abalou o País, fascinante incursão nas vidas de uma vítima e dos seus agressores, Pão de Açúcar é uma combinação magistral de factos e ficção».


 OUTRAS SUGESTÕES 

  

Racismo em Português, Joana Gorjão Henriques: «Cinco países. Cinco viagens. Cinco reportagens. Mais de cem entrevistas que procuram compreender a forma como o colonialismo marcou as relações raciais. Os portugueses terão sido mais brandos e menos racistas do que as outras potências coloniais, como o lusotropicalismo quis fazer acreditar? A partir de inúmeras entrevistas, Joana Gorjão Henriques desconstrói a polémica questão do racismo no colonialismo português. Quarenta anos passados sobre as independências das ex-colónias portuguesas, este livro questiona até que ponto o racismo afecta ainda hoje as relações».

Racismo no País dos Brancos Costumes, Joana Gorjão Henriques: «Um homem quer alugar uma casa, mas assim que diz o seu nome africano deixa de receber respostas. Uma avó da Cova da Moura é atirada ao chão por um polícia quando pergunta pelo neto. Uma mulher negra com formação superior vai ao hospital e perguntam-lhe se sabe ler as placas informativas. Por causa da cor da pele. Tudo isto acontece em Portugal, a portugueses negros, e é contado na primeira pessoa neste livro, que dá continuidade à investigação de Racismo em Português. Assim se completa o retrato de um país que, em 1982, deixou de atribuir a nacionalidade portuguesa aos filhos de imigrantes nascidos em Portugal, e onde ainda há quem encontre listas de escravos (com os respectivos preços) nos baús dos avós, entre outros brandos - brancos - costumes».

As Novas Identidades Portuguesas, Patrícia Moreira: «Num programa televisivo, após a afirmação de que "Portugal não é um país racista", o apresentador pergunta a um dos convidados presentes se já teve algum amor colorido, ao que este responde que não é dado a etnias. Os colegas de trabalho da Djamila quando estão insatisfeitos com o serviço questionam se são "A preta da loja". Estes episódios têm algum cariz racista? Um livro que embarca no conhecimento cultural da comunidade cabo-verdiana, através de duas personagens com vidas distintas e o passado a uni-los, que reside há tantas décadas em Portugal, e no processo de construção das identidades dos indivíduos. O romance revela, ainda, factos de preconceito racial ocorridos em Portugal».


  

Homossexualidade e Resistência no Estado Novo, Raquel Afonso: «Nesta investigação, que cruza uma recolha exaustiva de testemunhos reais a um sólido trabalho científico, aborda-se a visão da homossexualidade durante o salazarismo. Numa síntese perfeita de História e Antropologia, visitamos o Estado Novo nos seus parâmetros estatais, a partir de três eixos centrais e que fazem o seu fundo científico: a diferença de tratamento devido à classe social; o eixo do não-dito, e a visão da sexualidade a partir da referência do masculino [...] é um livro de memórias. Procurou dar voz a quem não conseguia expressar-se».

A História da Noite Gay de Lisboa, Rui Oliveira Marques: «A abertura da discoteca Trumps em pleno Príncipe Real, no início dos anos 80, foi decisiva para que este bairro de Lisboa se tornasse no epicentro da noite LGBT. Conheça as histórias, os primeiros anos da sida, o percurso de António Variações, Lydia Barloff, Ruth Bryden, Wanda Stuart e Vanessa Silva, o nascimento do Arraial Pride e o crime que abalou a noite gay».

Dislike, Diogo Simões: «Quando o Miguel conhece o André, a sua ideia de felicidade é baseada no que vê nas suas redes sociais. Mas será que o que se vê online corresponde à realidade?».


  

Raízes Negras, Lúcia Vicente: «Numa época em que o maior movimento de protestos antirracistas #BlackLivesMatter continua na ordem do dia, nada mais urgente do que celebrar alguns dos grandes nomes da História e da cultura negras que fizeram e fazem a diferença. De Martin Luther King a Marielle Franco, de Cesária Évora a Barack Obama, este livro inclui mais de 50 histórias biográficas de pessoas excecionais e pioneiras algumas, icónicas, outras, menos conhecidas que levantaram questões, ultrapassaram barreiras, abriram caminhos, superaram expectativas e inspiraram gerações. São exemplos de coragem, perseverança e liderança que não deixam esquecer como chegámos aqui e que nos lembram que podemos ir mais longe».

Feminismo de A a Ser, Lúcia Vicente: «A 8 de Março de 2019, a primeira greve nacional feminista em Portugal esvaziou locais de trabalho e encheu as ruas de homens e mulheres em protesto contra a desigualdade social e laboral, a violência de género e todas as formas de descriminação a que as mulheres estão, ainda, sujeitas. Num país onde, em 2018, 28 mulheres foram vítimas de femicídio e onde a diferença salarial entre um homem e uma mulher pode atingir os 26%, o feminismo é uma urgência, não um capricho. A igualdade de direitos, de deveres e de oportunidade para todos, independentemente do seu género, credo ou raça, está prevista na lei. A vida das pessoas e os números a que dão origem, porém, demonstram que a concretização desta prerrogativa continua longe do horizonte da maioria. No entanto, «feminismo» e «feminista» ainda são palavras que provocam desdém e desconfiança em muitos, que vêem nele uma guerra vingativa contra os homens e contra a sociedade. O feminismo pode lutar com todas as suas armas contra as desigualdades sociais e contra o machismo, mas o seu maior inimigo continua a ser a desinformação».

O Cultivo de Flores de Plástico, Afonso Cruz: «No fundo é isso. Ninguém nos vê. Somos invisíveis. A miséria é uma poção de invisibilidade. Quando as roupas ficam rotas, quando estendemos uma mão, puf, desaparecemos. Somos as pombas dos ilusionistas. Isto dava para um negócio, dava para ganhar a vida com os turistas. Levava-os a ver fantasmas numa cidade assombrada. Levava-os a verem-nos. Olhem, damas e cavalheiros, meninos e meninas, esta é a Lili, tem saudades de ser criança, tem no nariz o cheiro do tabaco dos dedos do pai e crostas nos braços, por aqui, por favor, cuidado com os pés, não pisem as camas, parecem cartões, eu sei, ali ao canto está o couraçado Korzhev, que se deixou ficar, com os ícones na lapela, sigam-me, é um deserto meio russo e traz o barulho do mar nos bolsos, atenção, cavalheiro, saia de cima do cobertor, vejam, ali, ali ao fundo, uma genuína senhora de fato, que ainda há poucos meses andava a alcatifar o mundo, minhas senhoras e meus senhores, e ainda tem na voz restos da sua vida anterior, do tempo em que havia casas. Palmas, por favor. E eu? Eu sou o Jorge, também invisível como qualquer fantasma, vivo nas ruas. Obrigado, obrigado, e agora, se me permitem, vou comer a minha sopa que está a arrefecer há tantos anos».


  

O Longo Caminho Para a Igualdade, Ana Maria Magalhães & Isabel Alçada: «Sabes que todas as Pessoas podem escolher a profissão que quiserem? Sabes que todas as escolhas são válidas? As Pessoas devem acreditar nos seus sonhos! Por isso, tivemos a ideia deste livro. Esperamos que as personagens desta história te inspirem a descobrir que tens a capacidade de escolher livremente a tua profissão. Texto de Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada, e ilustração de Susana Carvalhinhos, esta edição tem o apoio do iGen — Fórum Organizações para a Igualdade.Trata-se de um livro pedagógico que, através de uma linguagem apelativa e com belas ilustrações, explica aos mais jovens que as possibilidades são ilimitadas tanto para homens como para mulheres, e a igualdade entre as pessoas no trabalho e no emprego é um ponto de partida fundamental».

Um Preto Muito Português, Tvon: «É um livro que aborda questões de identidade referentes a um jovem nascido e educado em Portugal descendente de Cabo-Verdianos. Budjurra, como é conhecido, conta-nos as suas aventuras numa sociedade que o vê e trata como minoria. Revela-nos as suas inquietações e levanta questões relativamente a conceitos como racismo, discriminação, estereótipos, igualdade e humanidade».

O Retorno, Dulce Maria Cardoso: «A descolonização instiga ódios e guerras. Os brancos debandam e em poucos meses chegam a Portugal mais de meio milhão de pessoas. O processo revolucionário está no seu auge e os retornados são recebidos com desconfiança e hostilidade. Muitos nao têm para onde ir nem do que viver. Rui tem quinze anos e é um deles. Durante mais de um ano, Rui e a família vivem num quarto de um hotel de 5 estrelas a abarrotar de retornados - um improvável purgatório sem salvação garantida que se degrada de dia para dia. A adolescência torna-se uma espera assustada pela idade adulta: aprender o desespero e a raiva, reaprender o amor, inventar a esperança. África presente mas cada vez mais longe».


 

O Coração Vive de Sorrisos, Carolina Cruz: «Acham que não é possível apaixonarmo-nos por alguém dito diferente? Então venham! Quero que conheçam o Cláudio (um adulto com paralisia cerebral, apaixonado pela vida), a Alice (uma adolescente com síndrome de Down, que com sorrisos enfrenta a vida, depois de todas as mil razões que esta lhe dera para chorar), o Samuel (um jovem adulto com esquizofrenia com grande espírito de perseverança), a Madalena (uma menina de treze anos, com síndrome de Tourette, mas com mil sonhos na mão) e a Maria Inês (uma adolescente com síndrome de Asperger, tremendamente apaixonada pela musicoterapia) - personagens fictícias que o livro apresenta e que provam que o amor não tem forma ou feitio e que é das formas mais sinceras de se viver. Entrem nas suas vidas e deixem-se encantar por todos os sorrisos e por todos os sonhos que envolvem esta ficção que absorve a realidade de que o amor sempre vence».

Deixem Passar o Homem Invisível, Rui Cardoso Martins: «Este livro acompanha a viagem de um homem cego e de um pequeno escuteiro por uma Lisboa subterrânea, depois de uma enxurrada os empurrar para uma caixa de esgoto. Pelo meio desta aventura, que é também um caminho de memórias difíceis, há um ilusionista, um camaleão que não acerta com a cor e todas as pessoas que continuam a acreditar no salvamento».


 CONSIDERAÇÕES 

📖 Podem ler qualquer género e em qualquer formato;
📖 O tema pode aparecer representado de várias maneiras: seja através de situações em específico, seja através de personagens. Este «dar voz» não necessita de ser linear, ou seja, não tem de ser um relato na primeira pessoa, mas deve ser feito através de um livro que nos permita refletir sobre esta questão;
📖 A lista anterior é um mero guia de apoio, caso estejam sem ideias para as vossas leituras, mas podem ler outra obra do vosso agrado, desde que, naturalmente, respeite o tema central e seja de um autor português;
📖 Não há prazos, obrigações, nem meses fixos. E podem ler mais do que um livro.
📖 Utilizem a hashtag #almalusitana_asgavetas para que consiga acompanhar o que estão a ler.


O Alma Lusitana tem grupo no Goodreads. Se quiserem aderir, encontro-vos aqui.

10 comments

  1. Uma ótima partilha. É preciso divulgar estes temas para alertar consciências.
    Isabel Sá
    Brilhos da Moda

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    1. Obrigada, Isa! Acredito que a literatura nos pode ajudar nesse sentido

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  2. Uma bela selecção de livros "lusitanos".
    Aproveito para desejar a si e à sua família um Santo Natal.

    Andarilhar
    Dedais de Francisco e Idalisa
    O prazer dos livros

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    1. Muito obrigada, Francisco!
      Desejo-lhe o mesmo, para si e para os seus

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  3. Uma bela forma da nossa cidade representar uma causa tao importante <3 Excelente partilha de sugestoes <3

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  4. Que sim é mesmo uma boa sugestão para levar e não só para ler também
    Beijinhos
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  5. Quero muito ler o do Diogo. Li o da Carolina e do Afonso Reis Cabral.

    Cada vez é mais importante dar voz às minorias.

    Beijinho grande, minha querida! 😘

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    1. Estou bastante curiosa com o do Afonso Reis Cabral, que já estava na minha lista há imenso tempo. E também quero muito ler o do Diogo!

      Sem dúvida, até porque é urgente que deixem de o ser; que tenham acesso aos mesmos direitos, sem serem constantemente massacradas, porque são seres humanos como qualquer outro

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